Subsistem, no entanto, dificuldades na nossa época. Por um lado, há demasiada gente a desenhar e a maltratar a arte de diversas maneiras. Isto gera confusão. Por outro lado, esta própria multidão de artistas converte a publicidade e a auto-afirmação de mais baixo nível numa defesa contra a obscuridade. O resultado é que, à confusão produzida pela abundância se sobrepõe a obstrução deliberadamente feita pelas diversas capelinhas; às vezes constituídas por um só homem. O homem de gênio tem hoje maiores possibilidades do que jamais teve, sem ser na Grécia antiga; mas tem menos probabilidades do que nas piores trevas das eras iluministas. Tem a certeza de algum público, mas não tem a certeza de conseguir encontrá-lo. Pode contar com a aceitação, mas não com recebê-la. Tal como as duas metades naturais da amorosa alma platônica, o gênio e o seu público procuram-se mutuamente, mas, como sucede habitualmente, raramente conseguem encontrar-se. Tendem, separados e sós, a uma plenitude que nunca existirá e são virgindades vivas separadas.
Literatura portátil, pg. 20
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