terça-feira, 9 de setembro de 2014

Siddhartha - Lar

Siddhartha permaneceu de pé; durante um instante, durante um suspiro, o seu coração geou, sentiu-o gelar no seu peito como um pequeno animal, um pássaro ou uma lebre, ao ver quão sozinho estava. Durante anos não tivera lar e não o sentira. Só agora o sentia. Sempre, mesmo durante a meditação mais distante, fora filho de seu pai, fora brâmane, de alta condição, um erudito. Agora era apenas Siddhartha, o despertado, e nada mais. Respirou fundo, e por um instante sentiu frio e arrepiou-se. Ninguém estava tão sozinho como ele. Não era um nobre que pertencia à nobreza ou um artesão que pertencia a um grupo de artesãos e entre eles encontrava abrigo, partilhava a sua vida, falava a sua língua. Não era um brâmane, que se contava entre os brâmanes e com eles vivia, não era um asceta que encontrava abrigo na condição dos samanas, nem o mais isolado dos eremitas era único e solitário, também ele pertencia a uma condição, que era a sua pátria. Govinda tornara-se monge e milhares de outros monges eram seus irmãos, vestiam-se como ele, tinham as mesmas crenças, falavam a sua língua. Mas ele, Siddhartha, onde pertencia? Que vida poderia partilhar? Que língua poderia falar? (pg. 49)

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